segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Entre o Sagrado e o Profano



Mircea Eliade, em sua obra "O Sagrado e o Profano" faz uma análise antropológica e histórica acerca do entendimento do Sagrado ao longo da história, suas distorções dentro das "religiosidades" e o retorno à religiosidade natural, o animismo, após o século XIX.

Entre as excelentes reflexões, uma em especial me chamou a atenção, logo no início da obra, que trata do "espaço sagrado", que todo homem constrói.

É muito comum ao entrarmos em um templo ou em um determinado local de práticas religiosas, sermos avisados de que estamos em um "espaço sagrado", no qual é necessário respeito, silêncio, austeridade.

Parece que até a atmosfera é diferente... o ar é mais pesado... como se séculos de história e o espírito dos antepassados compusessem uma força extraordinária, capaz de pelo simples fato de estarmos ali, nos catapultar para um estado alterado de consciência. E, incrivelmente, nos sentimos leves, como se fôssemos penas ou pequenas folhas, envolvidas pela brisa da espiritualidade.

Algumas pessoas afirmam ter visões e uma expansão energética; outras recebem mensagens ou sentem suaves aromas.

Independentemente da experiência individual de cada um, certo é que o espaço sagrado é necessário a todo ser como forma de se encontrar, fugindo do profano (e a ideia de profano que aqui tratamos é a do ser que se encontra afastado de sua própria sacralidade, que ainda não despertou o divino em si ou que deixa-o adormecido) e experienciando uma consciência de pertença a algo maior.

Essa crença em algo maior, bem como a certeza de que o espaço sagrado permite uma conexão com a força geradora, com o Todo, acende a centelha da fé e auxilia no discernimento da vontade pela busca da sabedoria.

Segundo Eliade, o espaço sagrado permite que se obtenha um "ponto fixo", "possibilitando, portanto, a orientação na homogeneidade caótica, a “fundação do mundo”, o viver real."

E continua:
No interior do recinto sagrado, o mundo profano é transcendido. Nos níveis mais arcaicos de cultura, essa possibilidade de transcendência exprime se pelas diferentes imagens de uma abertura: lá, no recinto sagrado, torna-se possível a comunicação com os deuses; conseqüentemente, deve existir uma “porta” para o alto, por onde os deuses podem descer à Terra e o homem pode subir simbolicamente ao Céu. Assim acontece em numerosas religiões: o templo constitui, por assim dizer, uma “abertura” para o alto e assegura a comunicação com o mundo dos deuses."
Mas esse lugar sagrado não existe apenas nos templos, mas em todo lugar em que vamos, buscamos uma conexão com um ponto sagrado, a referência da espiritualidade daquele local. Pode ser uma árvore, uma pedra, uma varanda, o canto de uma casa... o sagrado se revela de forma espontânea e marcante, como um alento às nossas preces de novamente estarmos em contato com o Todo, explorando o divino que em nós habita.

Mesmo em casa, temos o nosso local sagrado, ou, como alguns chamam, o "lugar de poder".

Existem rituais específicos para encontrar o local de poder, ou também o "ponto de força" em nossa própria casa, mas de forma simples podemos dizer que este local é onde nos sentimos bem, onde sentimos uma força especial e uma vontade de ficarmos em silêncio, meditativos ou contemplativos, pois a isso o sagrado nos inspira.

Entre o Sagrado e o Profano, trilhando entre os caminhos da audácia e da aceitação social, é importante que tenhamos em nosso lar/ambiente de convívio, um local especial, mágicko, sagrado, no qual possamos estar mais perto do divino, que não está apenas no alto, mas no Todo e, principalmente, dentro de cada um de nós.

Evoé!

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