sábado, 18 de maio de 2013

Só sei que nada sei



Em "Soneto Antigo", um soneto de linda e profunda mensagem, Cecília Meireles revela:


Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

Na poesia, temos ricas lições que nos servem como inicações tanto de vida como da caminhada mágicka.

Na leitura do soneto de Cecília, é revelado um dos grandes segredos do conhecimento: o olhar para dentro.

Isso porque a lição que precisamos entender não está apenas nos livros, mas principalmente dentro de nós. Escutar nosso coração, entender como funciona nossa mente e os nossos pensamentos e compreender nossa missão nesta caminhada abre as portas para um conhecimento superior, pois nos coloca em uma vibração superior.

Desvelar-se é redescobrir-se e reinventar-se, e esse é o caminho de quem segue o autoconhecimento através do caminho mágicko.

A busca do conhecimento interior também reflete o ensinamento da escola maiêutica de Sócrates, que coloca o maior desafio do iniciado em uma única frase:


CONHECE A TI MESMO

Essa frase, em latim  "nosce te ipsum", é um aforismo grego que estaria inscrito nos pórticos do Oráculo de Delphos, segundo a tradição antiga, e que revela o grande ensinamento que deve estar no coração dos indivíduos.

Porque a iniciação mágicka muitas vezes nos leva à arrogância, à ideia de que já temos o conhecimento do mundo - ou, pior ainda - de que temos mais conhecimento do que os outros (pobres mortais) porque estamos em uma caminhada mágicka.

Pois aí é que Maya - a Deusa da Ilusão - vence. Seu grande trunfo é fazer com que acreditemos de que temos o conhecimento e enxergamos a verdade, quando, na verdade, nos perdemos na ignorância da ilusão.

Quem acha que sabe de tudo, por consequencia não está diposto a aprender e, portanto, nada sabe.


A consciência de nossa própria ignorância abre não apenas nossa mente, mas nosso coração e nosso espírito ao aprendizado, a ver lições em todas coisas, em todas as pessoas, situações e no Universo como um Todo.

E outra não foi a resposta de Sócrates, ao ser pronunciado como o homem mais sábio do mundo pelo Oráculo de Delphos:


SÓ SEI QUE NADA SEI


E essa deve ser a resposta de todo iniciado que se vê como um eterno buscador, que possui a mente aberta e coração quente (como diz o querido Mestre Íbis), pronto a deixar-se imergir na grande iniciação que é a vida.


Quem tem consciência que nada sabe, está pronto pra aprender, e, por consequencia, sabe muito.
E quanto mais sabe percebe que mais tem a aprender… Este é o verdadeiro sábio... O que se enxerga como um eterno buscador.


A este buscador, são dados inúmeros presentes, como a lâmpada de Trimegisto, o manto de Apolônio e o bastão dos Patriarcas (Eliphas Levy). A caminhada do mago/bruxa é solitário, porém sempre terá o auxílio (pequenos milagres), no momento em que se reconhece pequeno frente ao Todo.

Os Mistérios nos são revelados quando estamos aberto para aprendê-los, e essa é a recompensa que nos traz a alegria e o estímulo a continuar caminhando.


E como o caminho não precisa ser de sofrimento e dúvida, mas também de beleza e suavidade, podemos nos abrir ao conhecimento através das Artes Antigas,  como a música, a pintura e a poesia.
E para não dizer que não falei de flores, encerro a reflexão com a última parte do soneto de Cecília:


Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.

Evoé!

NFT



quarta-feira, 1 de maio de 2013

Saindo do Cubo (ou descontruindo a Caixa) - ensinamentos de mística egípcia





No estudo da mística egípcia, encontramos muitas referências ao cubo, não apenas como base da mais perfeita estrutura física já vista (as pirâmides), mas como referência ao próprio mundo no qual existimos (noção platônica) e, ainda, com relação ao potencial humano restrito.

O desenho do cubo expressava a questão do espírito e seu aprisionamento ao corpo humano.

Conforme Moustafa Gadalla, na obra Mística Egípcia:

O egípcio era muito consciente da estrutura em forma de caixa, a qual é o modelo da terra ou do mundo material. A forma estatuária chamada "estátua cubo" é a que prevalece desde o Reino Médio (2040-1783 a.C.). O sujeito era integrado à forma cúbica da pedra. Nessas estátuas cúbicas, há uma poderosa sensação do sujeito emergindo do confinamento do cubo. Seu significado simbólico é de que o princípio espiritual está emergindo do mundo material. A pessoa terrena é colocada de forma indefectível na existência material.
O cultivo das virtudes desejadas tem o efeito de liberar o aspirane do mundo material ao se emergerir da caixa, o eu inferior.
 A pessoa Divina é mostrada sentada de forma ereta num cubo, ou seja, mente sobre matéria.

O cubo, é, portanto, o mundo material, aquele no qual o homem é inserido e, quando ainda não despertado à realidade, o seu cárcere.

Mas como despertar e deconstruir a sua caixa? Como sair do cubo?

Novamente, as lições da Mística:
Há basicamente duas forças dentro de cada um de nós: uma nos puxando para dentro da caixa, e outra nos puxando para fora dela. A luta interior arquetípica no modelo egípcio é simbolizada num conflito entre Heru (Hórus) e Set (Seth). É a luta arquetípica entre forças opostas.
É necessário trabalhar as virtudes e alimentar a força criativa e romper os padrões do mundo material!

Mais do que isso, empreitar uma jornada de reconhecimento do seu próprio Seth interior, o ser desértico que habita o coração de cada homem, no aguardo de iluminação pelo Hórus reinante.

Para que na luta arquetípica Hórus possa vencer Seth, é necessário que sejam visualizados cada um dos obstáculos dentro de nós e controlados e/ou superados.

Para se libertar do cubo, descontruir sua própria caixa, há uma necessidade de olhar para si mesmo no espelho, e, deliberadamente, optar por negar (refrear) os vícios e afirmar  (cultivar) as virtudes.

Refrear-se de vícios como inveja, falar pelas costas, não purgar a ignorância, não ser caridoso, o ego, preguiça, superconfiança, arrogância, ser evasivo, indiferença, gulodice, vícios de linguagem, raiva, hipocrisia, vaidade, etc.

Cultivar virtudes como: reconhecimento de um erro; firmeza e gratidão; devoção desinteressda, amor, anseio/desejo; resolução, ser verdadeiro; contemplação, exame e avaliação de si mesmo; paciência; silenciar e ouvir; fome de conhecimento; humildade; satisfação/contentamento; servidão; força de vontade/determinação; ação correta; sinceridade. (Mística egípcia, p. 49-50).

A proposta de sair do cubo é sair do estado de "dormência" no qual nos encontramos e buscar as respostas não fora, mas dentro de nós mesmos, adquirindo a consciência de que somos bem mais do que pensamos e que nosso poder é ilimitado.

É romper com as barreiras da ignorância e do medo e ousar questionar os limites de sua consciência.

É tornar viva a chama do espírito inquieto e transformador. 

É voar mais longe do que imaginamos, romper a barreira da matéria e quebrar com o senso comum.
  
E junto com Hórus, desfrutar da calma beleza de sentarmos sob o trono da caixa recém quebrada.

Hotep!