quarta-feira, 17 de abril de 2013

As Duas Pedras



Elas são amigas e companheiras dos bruxos. Possuem em si mesmas todo o conhecimento e sabedoria do Universo.
Em sua simbologia simples mas extremamente complexa, temos nas duas pedras o fundamento e alicerce da caminhada mágicka.
As pedras das quais falo são aquelas que simbolizam nossa dualidade (única forma de chegar à unicidade): a da esquerda, traz consigo a força do feminino, do oculto, o yin, a emoção e a paixão, os medos e o nosso lado sombrio; a da direita, por sua vez, o masculino, o que se revela, o yang, a razão e a prudência, nossas virtudes e aquilo que deixamos à lume.
Eis o sentido mágicko e o motivo pelo qual nós bruxos trabalhamos tanto com estas pedras.
Porque representam as duas colunas, ou, como coloca Elifas Levi:
"Bohas e Jakin são os nomes das duas colunas simbólicas que estavam diante da porta principal do templo cabalístico de Salomão.
Estas duas colunas explicam em cabala todos os mistérios do antagonismo, quer natural, quer político, quer religioso, e explicam a luta geradora do homem e da mulher, porque, conforme a lei da natureza, a mulher deve resistir ao homem, e este deve atraí-la ou submetê-la.
O princípio ativo procura o princípio passivo, o cheio é amnte do vácuo. A goela da serpente atrai a sua cauda, e, girando sobre si mesma, ela foge de si e persegue a si mesma." (Dogma e Ritual de Alta Magia, p. 80).
Não há unidade sem o respeito à dualidade, e a consciência desta ambiguidade é o que nos faz permanecer - ou ao menos buscar - o "caminho do meio".
O caminho do meio é o objetivo a que todo Mago almeja: o equilíbrio do Ser, através do domínio de suas paixões e emoções, sendo ele quem domina, e não o dominado.
É esta a lição que o nosso querido Mestre, o escritor, Mago e amigo Mário Scherer, lança em sua obra-prima À Pequena Bruxa:
"Uma bruxa não busca o virtuosismo, na negação do conjunto natural de suas paixões, mas o equilíbrio entre elas, pois o contraditório não é conflitante e sim complementar." (p.15).
Assim, vemos da importância de ter essas pedras (em especial, pois são elas que nos encontram) em nossa caminhada mágicka, pois são um símbolo de alerta de que não há bem e mal, mas uma unidade, que possui metades complementares.
Quando dizemos "Sou um Ser de Luz", estou ao mesmo tempo, mesmo que de forma velada, afirmando "Honro a Sombra que Sou", pois não há um sem o outro.
E na nossa caminhada, precisamos trabalhar com a dualidade buscando o equilíbrio. Meditar sobre nossas falhas, nossos medos e imperfeições é trabalhar em nosso aperfeiçoamento pessoal. 
Não se vangloriar de seus feitos, mas reconhecer suas virtudes também traz ao bruxo a auto-estima indispensável para quem busca ser o "dominador" e não o dominado.
É sempre tempo de meditar, mas também tempo de agir, portanto não espere mais! Não aguarde!
Pegue suas pedras e entre em contato profundo com as forças que em ti habitam, pois assim, com certeza, estarás te trabalhando na busca do teu equilíbrio.
Não é uma questão de julgar ou comparar, mas de honrar cada parte do nosso Ser e que, se honrando, também se honre todo o Divino, todo o Sagrado, o Todo em sua compreensão infinita.
Evoé!

NFT


quarta-feira, 10 de abril de 2013

O Caminho do Sol

Depois de passar pela noite escura da alma, eis que ressurge o Sol, e, com ele, a esperança renovada de um novo dia, da nova vida após a morte.
Seguindo a tradição mágicka egípcia, vemos o Sol como o Grande Criador, o Grande Pai. 
Tal associação é feita devido à potência masculina associada à figura do Sol. Sua energia, que tem o poder de dar a Vida a tudo que nos cerca, é complementar à força feminina da Mãe Terra, que tudo recebe em seu útero.
Visto como Amon, Rá, Atum ou Aton, expressa a força solar como a energia que move o planeta e todas as coisas. E, pelo amor que sentimos e a gratidão de desfrutar deste esplendor, adoramos ao Deus Sol!
Um dos momentos mais belos e profundos que partilhamos na caminhada mágicka é a Saudação ao Sol, que também poderia ser nominada como a Despedida do Deus Solar, que em sua barca, toma os caminhos infindáveis do Universo, levando consigo nossas angústias e tristezas para, no outro dia, ressurgir em plena força e alegria, nos trazendo a esperança do novo amanhecer.
A linguagem figurativa que temos nesta viagem que Rá faz também associa-se à história de Kephra, ou Kepher, o escarvelho sagrado, que rolando seu próprio excremento, forma uma pequena bolota e ali deposita seu ovo, sendo o símbolo da vida após a morte e a ressureição (e por isso um amuleto de valor muito estimado para os antigos egípcios).
Do ponto de vista mágicko, vemos na metáfora a oportunidade que cada um tem de deixar-se libertar  das tristezas, mágoas e dissabores. Abandonar imperfeições, as culpas e os julgamentos, entregando-os aos cuidados do Astro Rei, que ao cair da noite, leva consigo aquilo que não mais desejamos, permitindo-nos novamente sermos preenchidos com amor e esperança da iluminação.
Tal associção permite que cada um manifeste sua própria divindade, que se permite morrer a cada dia, para renascer em beleza e perfeição.
Assim, podemos dizer que o Caminho do Sol é o caminho que cada um de nós permeia na busca da sua divindade, o seu reencontro com o Sagrado, o Divino, o Eu Superior. E, como toda caminhada, é necessário não desviar das pedras e dos obstáculos, mas superá-los; equilibrar-se sobre o pontihão da dúvida e penar na subida do monte da realização.
E quando se chega no alto, é necessário enxergar todo o panorama e certificar-se de que as lições foram compreendidas e ter humildade para voltar e recomeçar a caminhada, desde o atalho que foi tomado indevidamente ou o desvio que foi realizado, para então ser possível desfrutar da paz que reside no coração de quem bravamente sabe que a vida nada mais é do que um constante caminhar.
Este é o Caminho que me proponho a seguir. Esta é a minha caminhada. 
O Caminho do Sol, o nome do meu Coven e minha inspiração.
Evoé!

NFT


quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Noite Escura da Alma




Aqueles que sondam os caminhos da espiritualidade e, principalmente, os que optam pela caminhada mágica, um dia irão compreender e vivenciar o que chamamos de "A noite escura da alma".
Por ser um termo associado à introspecção, quando as situações e as incompreensões sobre o que nos cerca nos colocam em dúvida sobre tudo e todos, geralmente é visto como algo sombrio, triste, depressivo.
Entretanto, o termo "A noite escura da alma", surgiu como um título de poema escrito no século XVI pelo poeta e místico cristão São João da Cruz.
O mote do referido poema está na dolorosa experiência que as pessoas têm de suportar ao buscar crescimento espiritual e a união com a Deus (no caso, lemos Deus como a Divindade que habita em cada um de nós).
Para aquele que se encontra na noite escura da alma, as bases de sua crença encontram-se abaladas, e, como num passe de mágica, parecem perder todo o valor a ela agregado. A pessoa se sente em estado de abandono, ou como se estivesse em uma grande e infinita espiral rumo ao abismo, em colapso.
E esse período dura exatamente o tempo necessário à recomposição do indivíduo, agora com sua força e fé renovada e com uma nova carga de ensinamentos que foram trazidos durante "a noite" que agora precisam ser compreendidos e assimilados. A alegria da reorganização mental e espiritual, e novamente a reconexão com o seu Ser divino.
Assim, as "noites escuras" são momentos de extrema importância na caminhada, pois são aquelas nas quais confrontamos nosso maior inimigo: nós mesmos. E, não havendo perdedores nem vencedores nesta luta, o equilíbrio é a recompensa almejada: nosso pote de ouro no final do arco-íris.
E por ser tão misteriosa e tão bela, "A noite escura da alma" acabou sendo musicalizada e mundialmente conhecida na voz de Loreena Mackennit, na música "The Dark Night Of The Soul".


A noite escura da alma.

Em uma noite escura,
De amor em vivas ânsias inflamada,
Oh, ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Já minha casa estando sossegada.

Na escuridão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,
Oh, ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
Já minha casa estando sossegada.

Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,
Nem eu olhava coisa,
Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me ardia.

Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio-dia,
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia,
Em sítio onde ninguém aparecia.

Oh, noite que me guiaste!
Oh, noite mais amável que a alvorada!
Oh, noite que juntaste
Amado com amada,
Amada já no Amado transformada!
Em meu peito florido
Que, inteiro para ele só guardava,
Quedou-se adormecido,
E eu, terna, o regalava,
E dos cedros o leque o refrescava.

Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava,
Com sua mão serena
Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos transportava.

Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;
Tudo cessou. Deixei-me,
Largando meu cuidado
Por entre as açucenas olvidado.

São João da Cruz